Existe um ditado irlandês: “É melhor ter sorte do que ser rico”. Adoro este ditado. Quero ter sorte. Uma vez um colega disse, desdenhando de um boa sorte, que sorte é para incompetentes. Que seja. Vou optar pela sorte. Agradeço todos os dias pelas coisas boas que me aconteceram, que não têm explicação científica alguma. Alguns chamam isso de Deus.

Me lembro até hoje do Pietro, um garoto raquítico de pele muito branca de quem todos gostávamos porque tinha o videogame mais legal e sempre nos convidava para ir na sua casa. Ele ganhava um presente toda vez que tirava uma nota boa. Ele ganhava um presente realmente caro sempre que passava de ano.

Eu tinha uma inveja desagraçada do Pietro. Toda vez que eu tirava nota boa minha mãe falava: “Não fez mais que a obrigação”. Passava de ano tranquilamente e ouvia: “Nao fez mais que a obrigação”. Era o melhor da turma e “não fez mais que a obrigação”. Nada de presentes para o jovem Piangers.

É clara a influência negativa de pais ruins. Pais abusivos criam crianças tristes, despreparadas para o mundo. Isso é fácil de ver. Mas pais atenciosos, estes que passam horas estudando com os filhos, pais que conversam, que disseram não para uma promoção para ficarem mais tempo com os filhos, esses pais são invisíveis. Esses pais podem, por alguma razão inexplicável, ter filhos malsucedidos. E imaginem que tristeza é, para um pai dedicado, não ver seu filho brilhar. Que mundo injusto é este em que nós, humanos, somos tão imprevisíveis.

Se nossos filhos serão brilhantes, não sabemos. Talvez, se tivermos sorte. Se tivermos sorte. Serão brilhantes, famosos, bem-sucedidos, ajudarão outras pessoas, descobrirão a cura do câncer. Se tivermos sorte. Serão bondosos, reconhecidos, sorridentes e educados. Se tivermos sorte. Terá valido a pena as noites em claro, às vezes que não pensamos no trabalho, as tardes de estudos, a dedicação, as conversas, a abnegação. Teremos feito tudo isso e talvez dê certo, talvez não. Se der certo, seremos os pais mais felizes do mundo.

Não teremos feito mais que a nossa obrigação.