Uma mulher me marcou no Instagram com a seguinte legenda: “seu livro me ensinou que ser mãe solteira não é feio”. Fiquei um pouco impressionado. Como sou filho de mãe solteira, nunca me ocorreu que uma mãe solo se sentisse tão pressionada pela sociedade. Minha mãe parecia imbatível, nada derrubava minha mãe. Será que ela sofreu por fazer tudo sozinha?
Uma outra menina me parou no shopping. Ela levava o filho em um carrinho de criança e, começando a chorar, me abraçou. “Você me ajudou a acreditar que meu filho pode ser uma pessoa decente, mesmo sem pai”. Eu não soube o que dizer. Essas coisas não me ocorriam. Das dificuldades, das culpas das mães sem maridos. Foi um homem que as abandonou, mas são elas que carregam a culpa nas costas. O julgamento de todos.
Eu lembro de uma apresentação escolar em que minha mãe não chegou a tempo. Lembro de fazer a apresentação olhando pra entrada do teatro, esperando que ela chegasse. Lembro que a minha parte na apresentação passou, e ela não chegou. Todas as apresentações passaram e todas as crianças foram embora com as suas mães. Ficamos eu e a professora no teatro vazio. Esperamos por um tempo. Arrumamos as coisas. Começamos a descer alguns lances de escada. Quando chegamos no último lance de escada, vejo minha mãe correndo, bolsa em uma mão, casaco em outra, chave do carro caindo. Ela tinha ficado presa no trabalho. Deu pra ver que estava sentida com o atraso.
No meu coração de criança eu vi aquela cena e foi o suficiente. Apenas o fato dela ter chego, mesmo que com horas de atraso, foi o suficiente. Apenas ver seu desespero e esforço. Estava tudo bem. A minha mãe queria estar ali, mas não conseguiu. Às vezes, nós pais nos culpamos tanto por chegar atrasados, por não comprar o melhor presente, por não dar a melhor fantasia na festa de carnaval. Nossos filhos não estão nem aí. Eles só precisam sentir que QUEREMOS fazer nosso melhor. Eles estarão felizes com isso.
Não importa o que você sentiu, mãe. Nunca me faltou nada. Se eu sou o que sou hoje, o mérito é seu.